Após escândalos de corrupção que enfraqueceram esporte no
país, chineses apostam no talento de atletas de fora para elevar nível da liga
local
Descoberto em 2011, um esquema de corrupção em que árbitros
eram pagos para manipular resultados de jogos manchou a imagem do futebol na
China. Desde então, governo e clubes chineses tentam reerguer o esporte,
investindo em atletas estrangeiros renomados e apostando nas categorias de base
do país.
Dos dez jogadores com o salário mais alto do mundo
atualmente, dois atuam na China: Dario Conca e Didier Drogba. Eles e outros
atletas como Nicolas Anelka e Obina são exemplos de contratações de peso feitas
pelos times chineses nos últimos anos. Atraídos pelas propostas tentadoras, os
estrangeiros aceitam o desafio de viver sob uma nova cultura e rapidamente se
tornam ídolos das torcidas, carentes de referências no futebol.
- Quando eu cheguei aqui, não sabia o que ia encontrar. Hoje
vale a pena, dá para vir de olhos fechados - conta Muriqui, ex-atacante do
Vasco e Atlético-MG que hoje joga no Guangzhou Evergrande.
Além de Muriqui, outros 25 brasileiros disputam a liga
chinesa de futebol, sem contar com os naturalizados. No total, 83 jogadores
estrangeiros atuam no país. Dos 16 clubes da primeira divisão, todos têm pelo
menos um atleta que não nasceu na China. Os jogadores que vêm de fora são
exemplos a serem seguidos, e o investimento no mercado externo é visto como uma
forma de elevar o nível do esporte local.
- Acho que os jogadores que estão nos times de baixo têm que
começar a ver muito futebol estrangeiro, ver que o ritmo é diferente. Por isso
que o time que está agora na Copa Ásia, o Ghuangzhou, tem sete estrangeiros -
analisa o treinador da seleção chinesa, José Antônio Camacho.
Conca comemora conquista da SuperCopa da China (Foto: reprodução) |
Contratar estrangeiros é comum desde que a liga chinesa
virou profissional, mas a quantia paga para trazer os atletas aumentou com o
passar dos anos. Em 2011, Conca saiu do Fluminense para o Guangzhou Evergrande
pelo equivalente a 40,5 milhões de reais. A transação marcou o novo momento do
futebol chinês devido ao alto valor envolvido. Poucos meses depois, Anelka
trocou o Chelsea pelo Shangai Shenhua por 57 milhões de reais. No ano seguinte,
o mesmo time trouxe Drogba por um salário mensal de 2,5 milhões de reais.
- O mercado de futebol na China ainda é emergente, para
trazer um jogador de destaque tem que gastar muito dinheiro - explica o
treinador do Guangzhou R&F, o brasileiro Sérgio Farias.
Assim como os atletas, os treinadores estrangeiros também
são valorizados pelos chineses. O italiano Marcello Lippi, técnico do Guangzhou
Evergrande, tem o segundo maior salário do mundo, ficando atrás apenas de José
Mourinho, comandante do Real Madrid.
O crescimento econômico da China e a chegada de novos
investidores no país explicam os altos gastos com times de futebol. Algumas
empresas ainda perdem dinheiro com o negócio, mas fazem planos ambiciosos para
um futuro próximo.
- Nosso objetivo é ir à Copa dos Campeões da Ásia em um ano
ou dois, onde o nosso grande rival Ghuangzhou Evergrande está agora. Eu
acredito que o futebol vai nos dar retorno no futuro, mas não agora - revela o
vice-presidente do Ghuangzhou R&F, Lu Yi.